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Eu tinha o sonho de ver orcas na natureza. Sempre fui encantada por baleias em geral e principalmente por orcas, que apesar de serem da família dos golfinhos são confundidas com baleias. Esse mamífero gigantesco é o rei dos mares, com suas técnicas variadas de caça ataca até baleias e daí recebeu o apelido de baleia assassina, da tradução errada do espanhol “matadora de ballenas” para o inglês “killer whale”.

Eu tive a experiência egoísta e cruel de vê-las em um tanque e só confirmei o quanto esses animais são simplesmente incríveis. Sou totalmente contra o aprisionamento de qualquer animal e fiquei ainda mais instigada a buscar um encontro com orcas livres no mar. Existe um lugar na Argentina, a Península Valdés, onde as orcas desenvolveram um método exclusivo para atacar os filhotes de lobos marinhos. Elas fazem um tipo de encalhe intencional durante a maré alta, adentrando até a areia para abocanhar os lobinhos e então voltar para o mar. De março a abril elas estão por lá e em certos dias aparecem em Punta Norte.


Decidi que era para lá que eu iria atrás das orcas. Procurei o máximo de informações, mas percebi que os relatos de turismo para avistamento eram um pouco vagos. Ao chegar a Puerto Madryn, a cidade mais próxima, entendi porque não havia encontrado muito sobre o assunto. Quando eu contava para alguém que estava em busca de orcas as pessoas me perguntavam: orcas? Mas como você vai fazer? Por quantos dias vai esperar? Essas questões desanimadoras se deviam ao fato de o local simplesmente não oferecer nenhuma estrutura para pessoas em busca de orcas porque seu aparecimento é totalmente imprevisível. Apesar da situação desfavorável, eu ficaria por 3 dias na Península Valdés e estava certa de que as orcas apareceriam.

A maioria das pessoas que vão à região se hospedam em Puerto Madryn, onde se pode mergulhar com lobos marinhos, avistar golfinhos de um passeio de barco ou aproveitar o maior atrativo da região, a baleia franca, essa sim aparece aos montes entre junho e dezembro e movimenta uma grande estrutura turística. Desde Puerto Madryn saem ônibus e passeios para a Península Valdés, que pode ter seus principais atrativos visitados em tours de um dia.

Eu preferi ficar hospedada na Península, pois as distâncias são bem grandes para serem percorridas por vários dias e como a região é um parque nacional, a taxa cobrada a cada vez que você entra é bem carinha (180 pesos argentinos para estrangeiros). O minúsculo povoado de Puerto Pirâmides oferece algumas hospedagens, restaurantes e pequenas vendas. Além de estar ao redor de uma bela praia de mar calmo e formações rochosas que se assemelham a pirâmides.

Logo percebi que eu era a única pessoa lá em busca de orcas. No local de informações turísticas me informaram que as únicas formas de transporte disponíveis eram os tours que percorrem toda a península ou táxi, e que de Puerto Pirâmides a Punta Norte eu demoraria mais de uma hora. Logo de cara fiquei bem desanimada, mas eu estava lá em busca do meu sonho e de algum jeito eu encontraria com as orcas.

No dia seguinte, de manhã cedo, saí andando pela estrada e pedindo carona. A paisagem por lá é totalmente desértica, marrom, de plantas rasteiras. Vi alguns guanacos, emas e armadillos correndo soltos. Logo um casal parou o carro e eu segui com eles até Punta Norte. O local é um berçário de lobos marinhos e concentra centenas de espécimes com seus filhotes, nessa época já começando a nadar sozinhos no mar, uma presa em potencial. A praia é reservada para os animais e podemos observar de longe. Passei um bom tempo por lá, olhando a bela, mas incompleta paisagem, pois seu personagem principal não apareceu.

No dia seguinte resolvi fazer o tour, para conhecer também as outras partes da península e observar pinguins e elefantes marinhos. O guia informou que já fazia tempo que as orcas não apareciam e, por isso, a chance de elas voltarem a dar as caras eram grandes. Ele me disse para manter o pensamento positivo, que elas apareceriam para mim, e era nisso que eu também acreditava. Mas também não foi dessa vez. No terceiro dia, meu último por lá, fui a Punta Norte novamente. Mas nesse dia tudo foi diferente, tive que pegar 3 caronas, porque cada uma ia a um lugar diferente e quando finalmente cheguei reparei que havia uma quantidade maior de carros estacionados. Um veículo específico me chamou atenção, era um carro de pesquisadores de orcas. Nesse momento eu tive certeza, elas estavam ali.

Me aproximei do mirante e olhei para onde todos apontavam. Pela primeira vez enxerguei ao longe e não pude acreditar, era muita emoção. Eu realmente estava no mesmo local onde um grupo de orcas nadava livremente pelo mar. Elas estavam soltas no oceano e simplesmente decidiram aparecer naquele lugar, naquele momento, e me dar a honra de presencia-las. Havia um grupo grande, elas nadavam deixando todo o seu corpo à mostra para fora do mar e esguichando água. Nosso encontro estava concretizado e eu me senti realizada.

Muitos pássaros rondavam o local, indicando que elas estavam caçando. Apesar de entender os ciclos da natureza, achei bom que foi longe porque se eu visse um ataque a um dos lobinhos provavelmente ficaria bem chocada. Afinal o meu sonho se realizou. Se você também tem esse desejo, eu indico que vá em busca dele, mas sabendo que não é garantido. Tudo o que você pode fazer é ir até a Península Valdés na temporada de março a abril, visitar Punta Norte durante o período de maré alta e esperar que elas apareçam.

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