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A ONG TETO tem uma missão: acabar com a extrema pobreza. Mais de 100 milhões de latino-americanos vivem em favelas, em moradias irregulares, sem saneamento básico, coleta de lixo ou acesso aos principais serviços que qualquer cidadão teoricamente teria direito. Essa é a região de maior desigualdade social do planeta. Atuando em 19 países da América Latina com mesas de trabalho, construção de casas de emergência e implementação de projetos em comunidades carentes, o trabalho da organização reúne moradores e voluntários para mudar essa realidade.

Quando participei como voluntária pela primeira vez, em 2011, ainda era Um Teto Para Meu País. Me inscrevi sem saber direito como seria e participei de uma das experiências mais transformadoras da minha vida. Entrar em uma favela, conhecer de perto a realidade e trabalhar junto com seus moradores é a única maneira de entender as questões sociais sem preconceitos. É muito diferente conhecer um projeto com objetivo real de mudanças relevantes e efetivas na sociedade. Estava mais acostumada a ver trabalhos voluntários em forma de assistencialismo e caridade, nos quais o benfeitor se sente satisfeito por estar fazendo um bem a um necessitado, mas com atitudes que não causem verdadeiras transformações nem afetem sua vida privilegiada.

No TETO encontrei jovens mobilizados trabalhando unidos por um ideal. O mote “começou não para”, cantado em uníssono a plenos pulmões acompanhado de pulos animados em momentos específicos das atividades, ressalta o verdadeiro engajamento do TETO em trabalhar sem descanso até a ONG não ser mais necessária, quando a extrema pobreza finalmente acabar.

Uma das atividades principais da organização e que atrai mais gente é a construção massiva, que acontece depois de um longo trabalho de pesquisa de comunidades, aplicação de enquetes e envolvimento com os moradores. Tudo começa com os voluntários inscritos se reunindo em algum ponto para pegar os ônibus e se dirigir às comunidades. Ficamos hospedados durante um fim de semana em escolas públicas, onde dormimos em colchões no chão e comemos o que outros voluntários cozinham.

No primeiro dia de construção bem cedinho, nos dividimos em equipes de 8 pessoas e saímos para conhecer o terreno e a família que vai trabalhar com a gente. Ali começamos do zero a construção de uma casa pré-fabricada. Cavamos para fixar os pilotis que vão sustentar os painéis de madeira, montamos a estrutura e ao final fixamos o telhado. É um trabalho pesado, mas que pode ser feito por qualquer pessoa. Os líderes de equipe conhecem bem o plano de construção e vão designando as atividades de acordo com as preferências e características dos voluntários.

No fim de cada dia acontecem as atividades de formação, essenciais para todos entenderem que o trabalho ali vai muito além da atividade física de construir uma casa. O envolvimento entre os voluntários e as famílias é enorme e ao final entendemos que só o que nos diferencia é o abismo social entre classes. Enquanto uns vivem no conforto de suas casas, com serviços de qualidade e condições adequadas para decidir fazer um voluntariado quando querem, outros não tem escolha além de lutar pelo mínimo dos seus direitos que é uma moradia digna. Quando a casa enfim fica pronta celebramos a inauguração de novas possibilidades para aqueles moradores e o início de outras transformações na melhoria de suas condições de vida.

Para uma construção acontecer existe uma grande equipe que começa a trabalhar muito antes. São voluntários que se dedicam por meses para selecionar a comunidade, escolher as famílias e providenciar toda a estrutura necessária. Desde achar uma escola onde a gente vai dormir, até realizar a logística dos materiais das casas, pilotis, painéis e ferramentas. Os cargos de chefe de escola, chefe de logística, intendentes, monitores e líderes de equipe são designados para voluntários já com experiência em construções, que recebem uma formação e acompanhamento e se comprometem a entregar as casas prontas ao final de um fim de semana.

Alguns eventos marcantes que participei foram as construções de famílias, em que minha família participou junto comigo. Fizemos rifas para financiar o valor da casa e chamamos amigos para construir também. Todos conheciam meu envolvimento com a ONG, mas foi uma oportunidade de levar a eles também mais consciência dos problemas sociais e vontade de agir para resolvê-los. Trabalhamos família com família, unidos no sonho de uma sociedade justa e sem pobreza.

Logo que comecei a ser voluntária, o evento que mais me motivou a querer fazer parte do TETO foi a construção latino-americana, que reuniu voluntários dos outros países em que a ONG atua para trabalhar com a gente aqui no Brasil. Ali enxerguei o tamanho daquela mobilização, o tanto de gente em lugares que eu nem imaginava que estava engajada com um mesmo objetivo. Me emocionei com a perspectiva de trabalhar por um ideal tão importante e bonito e me envolvi totalmente na causa.

Outro momento marcante foi ao final da minha primeira construção, quando os ônibus chegaram com os voluntários vindo de diferentes comunidades para se reunir em uma atividade de despedida em uma escola. Havia muitas ferramentas para serem descarregadas e formamos uma fila gigante de voluntários que iam passando cada ferramenta de mão em mão, dos ônibus até o pátio da escola. Um trabalho que poderia ter demorado muito, mas se tornou simples e também divertido com o empenho e organização de tanta gente.

Também participei de um grupo de brasileiros que viajou para uma construção no Paraguai. Fomos de ônibus até Ciudad del Este. Cruzamos a fronteira e nos reunimos com paraguaios e argentinos. A realidade da comunidade que conhecemos lá era totalmente diferente daqui. A área era meio rural e os moradores levavam uma vida simples e pacata. Imaginava que poderíamos conversar em espanhol, mas eles só falavam guarani. Passamos 3 dias enfrentando um calor absurdo com muito tererê gelado, melão e comidas típicas cozidas na fogueira. Me lembro com carinho de uma noite em que já tarde tivemos que sair da escola para distribuir os materiais de construção pelos terrenos. Fomos todos contemplando o céu, deitados no caminhão em cima de uma pilha de painéis. As instalações para os voluntários lá foram bem precárias, na escola em que ficamos não tinha água e pudemos sentir na pele um pouco das condições de vida na comunidade. Nos comunicávamos com os moradores com gestos e expressões faciais, ou com a ajuda dos voluntários paraguaios, que também falavam guarani e português. A equipe multicultural trabalhou com uma integração incrível e todos tinham algo diferente a ensinar. Foi uma imersão profunda nas questões sociais e cultura local e voltei triste com a perspectiva de que a pobreza não tem fronteiras, mas empenhada com o poder do trabalho que nos uniu.

A construção de casas de emergência é apenas uma das frentes em que o TETO atua. Os projetos implementados dependem das necessidades específicas de cada comunidade e das demandas dos moradores. A construção de uma horta na comunidade Vila Nova Esperança, por exemplo, surgiu de uma iniciativa da comunidade pelo acesso a alimentação de qualidade.

Para financiar todos os projetos do TETO existem parcerias com empresas, doadores mensais e a coleta, um grande evento que reúne os voluntários nas ruas para divulgar a organização e angariar fundos. Muitos voluntários, além de alguns contratados, trabalham fixos no escritório, desenvolvendo ações contínuas para viabilizar a atuação da ONG. Enquanto eu fazia faculdade de cinema fui voluntária e coordenadora da área de audiovisual. Cada um com seus conhecimentos e aptidões pode participar da maneira que desejar, sendo um doador, se voluntariando no escritório ou nas comunidades. O TETO Brasil já está em várias regiões do país além de São Paulo. Inscreva-se: www.techo.org/brasil.

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