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Pedalar nas ruas do Brasil é um ato de resistência, uma luta por direitos. A bicicleta é um meio de transporte assim como o carro, mas com muito mais vantagens pra quem pedala, que ganha saúde e diversão, e também para o meio, evitando gerar poluição e trânsito. Entretanto, ciclistas são proibidos de transitar em vias que por direito deveriam ser compartilhadas.

Se um ciclista quiser ir de São Paulo para o litoral, terá que enfrentar a poluição e a fúria dos carros, trafegando por acostamentos perigosos onde não é bem-vindo. Em alternativa a isso surgiu o projeto da Rota Márcia Prado, um caminho separado para bicicletas em meio a natureza. Esse trajeto se utiliza de estradas de manutenção que já existem e apenas teriam que passar por uma pequena adaptação e terem sua utilização liberada.

Uma vez por ano, grupos de ciclistas se juntam para fazer essa Tradicional Descida a Santos pela Rota Márcia Prado, que ainda não está oficializada. Esse movimento vem crescendo muito nos últimos anos e em 2017, diante de um agrupamento enorme de bicicletas, a concessionária da rodovia decidiu impedir o passeio. A polícia agiu violentamente com bombas e tiros de borracha e muita gente voltou pra casa machucado.

Então em 2018, representantes dos ciclistas, da concessionária e do poder público formaram um comitê para organizar a descida do final do ano. Foi criado o evento Pedal Anchieta, em que um lado da estrada estaria fechado para carros e todas as bicicletas poderiam transitar livremente até chegar a Santos. Independente desse evento em um dia único, ainda existe a demanda pela abertura da Rota Márcia Prado para que qualquer ciclista possa descer ao litoral sempre que quiser.

O Pedal Anchieta 2018 não foi muito divulgado nas mídias tradicionais, a notícia correu mais entre coletivos de ciclistas. Havia um site para que todos fizessem sua inscrição gratuitamente, para controle de quantidade de gente, mas muitos boicotaram a inscrição, então não se sabia ao certo qual seria o público do passeio. Na semana anterior à descida, levei minha bicicleta para revisão, o que era totalmente necessário antes de descer uma serra, e a oficina já estava lotada. Também já compramos nossa passagem de ônibus antes para voltar a São Paulo depois do passeio. As empresas aumentaram bastante o contingente de veículos especialmente para levar os ciclistas e suas bicicletas para casa. Muitas equipes também organizaram seus próprios ônibus.

No dia do passeio o indicado era que os ciclistas chegassem pelo metrô ao início do trajeto bem cedo pela manhã. Quando saímos da estação já nos deparamos com uma multidão de pessoas e suas bicicletas. Fomos seguindo o caminho e não houve um trecho que não estivesse cheio de gente. Inclusive, em alguns momentos, a estrada era fechada e todos tinham que esperar um pouco para evitar acidentes. As vistas do passeio foram incríveis e apesar de já ter descido de carro ao litoral um milhão de vezes desde que nasci, conheci uma estrada totalmente nova dessa vez. São 40 Km até Santos, o caminho inicial é cheio de subidas e descidas, um pouco cansativo, mas quando chega na serra é só descer.

Chegando a Santos foi cada um para um lado, as bikes se espalharam tomando conta da cidade. Todos os lugares estavam lotados de ciclistas, as ciclovias, restaurantes, praia, onde você olhasse se acumulavam bicicletas estacionadas. Foi uma verdadeira invasão ciclística que nem todos os locais estavam preparados para receber.

Apesar de toda a organização, a volta de ônibus foi bem complicada, pois a cidade não deu conta de tanta gente. A rodoviária não é tão grande e não tinha espaço para tantos ônibus estacionarem esperando que todos carregassem suas bicicletas. Todos estavam bem cansados e esperamos pacientemente os atrasos até enfim tomar a estrada para São Paulo.

Ao final, 40 mil pessoas voltaram para suas casas depois de um banho de mar e uma viagem sensacional movida apenas pelas suas próprias pernas.

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