Apaixonada pelo mar desde sempre, contemplava os surfistas na praia com admiração, mas nunca me imaginei pegando onda como eles. Eu costumava brincar com aquelas pranchinhas de bodyboard e me divertia muito
pegando jacaré. O mar é o lugar onde eu mais gosto de estar, o banho de água salgada tem um efeito tão forte que cura tudo, e a força das ondas me enche de energia.
Conheci a Longarina (www.longarina.com) e na mesma hora pensei pela primeira vez que eu também queria aprender a surfar. Elas são mulheres que organizam retiros, vivências, bate-voltas para a praia com o intuito de levar outras mulheres no caminho do surfe e do autoconhecimento. Afinal as duas coisas estão interligadas, para praticar uma atividade que exige tanta concentração e controle emocional e do corpo, é necessária uma atenção mais introspectiva para nós mesmas. Além disso o surfe é uma ferramenta super poderosa na busca do equilíbrio.
Dentro do mercado do surfe feminino já existem diversas opções de cursos e treinos específicos para mulheres. Mas alguns nos usam apenas como um diferencial para aumentar o seu negócio. Eu escolhi aprender com a Longarina justamente pelo seu engajamento feminista.
Incluir a mulher no surfe é mais do que permitir que ela divida as ondas com os homens, é mostrar para qualquer menina que ela pode tudo. Nós somos fortes, poderosas e estamos reaprendendo a enxergar todo o nosso potencial. Conforme o feminismo se espalha entre garotas cada vez mais jovens, vemos surgir uma geração que inspira a expectativa de que talvez finalmente possamos alcançar a igualdade de gênero.
O dia da minha primeira aula de surfe começou bem cedo em São Paulo. O grupo de mulheres era grande, nos encontramos no metrô e pegamos uma van ainda antes de clarear. Chegando na praia da Riviera, sentamos em círculo para todas se conhecerem. Muitas ali sonhavam em surfar a muito tempo, algumas iam enfrentar sua dificuldade de nadar ou o medo do mar, e todas traziam a empolgação de crianças que iam experimentar uma brincadeira nova pela primeira vez.
Após uma breve aula teórica e treino de movimentos na areia, entramos no mar. Para principiantes as pranchas maiores oferecem mais estabilidade e ajudam a aprender a ficar de pé. Ultrapassar as ondas com aquela pranchona era difícil e eu, que nunca tive medo de mar, pela primeira vez me senti desconfortável na água. Logo os professores vieram nos ajudar e comecei a entender a prancha com parte de mim. Se posicionar de frente para a praia e na posição de pegar a onda demandava um certo esforço, o exercício físico intenso era cansativo e algumas vezes fiquei sem ar. Isso que estávamos no raso. Os professores iam ajudando uma por vez, orientando a prancha e acompanhando na hora da onda.
Fiquei em pé na prancha pela primeira vez. A sensação é de estar no limiar do desequilíbrio, uma instabilidade controlada. Naquele momento só existe eu e a onda, concentração total. Acompanho o movimento da água e compenso com o meu corpo. Caio da prancha. Repito isso diversas vezes, tentando entender como fazer aquele momento de plenitude, em que tudo se equilibra e eu vou fluindo junto com o mar, se estender por mais tempo.
Agora fico querendo aprender os termos do surfe, os tipos de prancha, como ler o mar, na expectativa para outras aulas. Começar depois de adulta dificulta um pouco mais um esporte que já não é fácil. É necessário ter muita persistência e manter o condicionamento físico. Eu não sei se um dia serei uma boa surfista e não me preocupo. A sensação de estar no mar e ficar de pé na prancha me contempla.
O surfe é um dos poucos esportes que não depende só dos atletas. Ele nos ensina a esperar, ter paciência para aproveitar o momento certo e aceitar quando as condições não são propícias. Respeitar o mar é uma lição sobre respeitar também a nossa natureza.
Fotos: Suellnobrega