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Karumbé, em guarani, significa tartaruga marinha, animal que um grupo de jovens e seus apoiadores se esforçam para proteger em La Coronilla, Uruguai.

Eu sempre fui encantada por tartarugas marinhas, uma vez vi uma liberação de filhotes na praia de Maresias e achei maravilhoso aquele monte de tartaruguinhas que mal conseguiam andar, correndo pela areia em direção ao mar. Encontrei Karumbé pela internet e decidi me voluntariar por 10 dias.

Sua base fica em La Coronilla, praia do litoral norte do Uruguai, lá ficam os animais em reabilitação e um centro de visitantes. Mas o trabalho maior se concentra em Cerro Verde, uma área protegida onde ocorrem diversas atividades de investigação para estudar as condições de vida das tartarugas.

Para ser voluntário, não é necessário ter nenhuma relação com a área de biologia, nem ter conhecimentos prévios sobre tartarugas. Basta ter ânimo e disposição para conviver em grupo e fazer muitas atividades ao ar livre. Para se candidatar entre em contato através do site: http://www.karumbe.org/, há um máximo de voluntários que eles podem receber por vez, mas normalmente estão precisando de gente. A temporada vai de janeiro a abril, mesmo no verão pode fazer bastante frio. Você pode acertar a quantidade de dias dependendo de sua disponibilidade, mas um mínimo de 10 dias é essencial para poder conhecer bem, aproveitar e ajudar. Os voluntários pagam uma taxa pela acomodação e alimentação, que ocorrem na própria base, quando eu fui era 20 dólares por dia.

Há duas maneiras de chegar. De ônibus a partir do terminal três cruces (http://www.trescruces.com.uy/) de Montevideu saem várias companhias e a viajem dura cerca de 5 horas. Ou de Porto Alegre (http://www.rodoviaria-poa.com.br/) saem ônibus para Chui, 8 horas. Em Chui, na rodoviária do lado uruguaio, as opções de ônibus são: COT (http://www.cot.com.uy/), CYNSA (http://nunez.com.uy/) e Rutas del Sol (http://www.rutasdelsol.com.uy/) e o trajeto até La Coronilla dura meia hora. Brasileiros não precisam de visto para entrar no Uruguai, o RG original ou o passaporte são necessários. Chegando em La Coronilla é fácil encontrar Karumbé, desde o terminal de ônibus é só caminhar em direção à praia. Eu cheguei de noite e não teve nenhum problema, mas se programando dá para chegar durante o dia. Durante o verão no Uruguai fica claro até 21h.

As acomodações são bem simples, tudo é construído de madeira, bem artesanal e rústico. Algumas divisórias formam pequenos quartos, com dois beliches em cada. Tem uma sala com uma mesa grande de refeições e uma cozinha. O banheiro fica fora. Durante a noite tem bastante mosquito. Tem wifi e telefone. São 3 refeições diárias, que todos compartilham. Cozinhar, lavar e limpar são tarefas divididas entre todos. A cada semana se organiza um quadro diário de funções, que incluem as atividades com as tartarugas.

Enquanto eu fiquei em Karumbé participei de atividades bem diversificadas, condicionadas principalmente pelas condições climáticas e acontecimentos externos. Quando estava frio, ficamos na base, onde ocorre o tratamento das tartarugas debilitadas, acondicionadas em pequenos tanques de água. Durante o dia as pessoas vão lá para visita-las, conhecer um pouco sobre a espécie e comprar lembrancinhas. A comunidade local é envolvida para se conscientizar e cuidar das tartarugas também. Quando os espécimes resgatados estão em condições de voltar ao mar, ocorrem eventos de soltura. Em uma das vezes fomos à praia de Punta del Diablo, onde uma pequena multidão se aglomerou para acompanhar a tartaruga recuperada fazer seu caminho pela areia de volta ao mar.

Quando o dia estava bom, podíamos ir até Cerro Verde, desenvolver as atividades de pesquisa. O caminho é bem longo e se faz a pé pela praia. O sol é particularmente forte nessa região e praticamente não há sombras onde se esconder. Nessa área protegida as tartarugas verdes jovens se aproximam da costa para se alimentar. Uma vez ficamos observando o mar desde um local alto e contanto as tartarugas que colocavam a cabeça para fora da água para respirar. Outro dia, vestimos roupas de mergulho e usamos redes de pesca para capturar tartarugas, examiná-las e marca-las.


Ficamos sabendo que um pescador ilegal havia deixado redes de pesca na área protegida. As redes são muito perigosas para as tartarugas, pois elas ficam presas e não podem ir à superfície para respirar. À noite conseguimos contato com o pescador, que prometeu trazer as tartarugas que haviam ficado presas, para nós cuidarmos. Caminhamos toda a praia no escuro até o barco, onde pegamos as 3 tartarugas vivas e levamos conosco. Infelizmente o pescador deve ter encontrado muito mais tartarugas que já estavam mortas e ele as soltou no mar. No dia seguinte apareceram 7 tartarugas mortas na praia. Buscamos as que estavam em melhores condições e levamos para fazer a necropsia. Dentro das tartarugas é comum encontrar muito plástico que elas confundem com algas, seu alimento.


Pude trabalhar com pessoas de diversas nacionalidades, a maioria dos voluntários era uruguaio ou argentino, mas tinha também americanos, ingleses, espanhóis. O ambiente é super descontraído, mas ao mesmo tempo o trabalho com os animais é levado bem a sério. Pude participar de todas as etapas e tive bastante contato com as tartarugas. Acho que o principal dessa experiência foi sair com um senso de responsabilidade pela vida de todos os animais do planeta que nós impactamos com as nossas atitudes, e com a perspectiva otimista de saber que há pequenos grupos como esse por aí fazendo um lindo trabalho pela natureza.

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