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Em Torres del Paine, na Patagônia Chilena, animais selvagens vivem soltos em seu habitat natural. O maior e mais temido entre eles é o puma, grande felino que alimenta lendas sobre ataques agressivos e turistas ávidos por uma boa foto.

Desde que cheguei lá para fazer trabalho voluntário, eu e todos os meus colegas falávamos o tempo todo sobre a possibilidade de encontrar um puma pelo parque. Tínhamos muita vontade de que isso realmente acontecesse. Também ouvi histórias de pessoas que haviam sido atacadas por pumas e comidas ainda vivas. O pessoal do parque garantiu que por lá a oferta de alimentos era enorme e que um puma não se arriscaria a atacar a gente. Racionalmente também acredito que é improvável ocorrer um ataque, mas quando andava pela floresta no escuro sempre sentia um pouco de medo. Eu estava hospedada em um domo no meio da mata e para ir até o banheiro tinha que fazer uma pequena trilha. Durante a noite, se precisasse fazer xixi, o melhor era ir no matinho ali por perto mesmo. Foi o que aconteceu, acordei apertada no meio da noite e me dirigi à moita mais próxima. A noite estava totalmente escura e, sem nenhum tipo de iluminação artificial, eu não enxergava nada ao meu redor. Com a minha lanterninha achei o caminho e preferi não iluminar nada a minha volta com medo do que pudesse encontrar. Fiz meu xixi tranquilamente, confiante na minha completa solidão, e voltei a dormir. No dia seguinte, ao caminharmos de volta para o domo no fim da tarde, tivemos a grata surpresa. Um puma apareceu. Por alguns instantes ele ficou parado nos observando e nós paralisados em choque. Até que ele se moveu e todos corremos para pegar câmeras e tentar nos aproximar mais. O puma é muito rápido e se camufla na mata da região, tentamos segui-lo, mas ele logo sumiu. Nos próximos dias ele voltou a aparecer, sempre rondando a área do nosso domo. Mas a primeira vez foi a mais marcante porque ele estava simplesmente parado ali, calmo, observando, bem ao lado da nossa hospedagem, de onde saíamos tranquilos a noite sem saber o que nos espreitava. Enquanto eu ainda estava em Torres del Paine, com alguns dias pela frente, preferi acreditar que o puma não estava me observando quando fiz meu xixi durante a noite. Em todo o caso, passei a evitar sair sozinha no escuro.


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