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Passar o carnaval em São Paulo pode ser ótimo. Apesar da cidade não ser uma das mais tradicionais na festa, reúne um público grande e animado, tanto para os desfiles no sambódromo como nos bloquinhos de rua.

A festa dos blocos cresce a cada ano. Durante o carnaval e algumas semanas antes e depois, são várias opções por dia, que agregam diferentes cantos da cidade e grande diversidade de estilos. É lindo ver o público ocupando as ruas, é uma festa livre e aberta, para todos. Antes concentrado na Vila Madalena, o carnaval de rua tem se distanciado dos bairros residenciais, migrando para áreas que abriguem as grandes proporções que alguns blocos vêm tomando, com trios elétricos e artistas famosos que reúnem multidões. A festa só cresce e os bloquinhos tradicionais se mantém, levando também famílias e crianças para as ruas.

Já o desfile das escolas de samba de São Paulo é menor do que o do Rio de Janeiro, mas também faz bonito. As escolas do grupo especial desfilam na noite de sexta-feira e sábado de carnaval, no sambódromo. Para assistir, basta comprar os ingressos com algumas semanas de antecedência, pois costumam esgotar. Mas para vivenciar realmente o que é uma escola de samba, nada melhor do que desfilar.

As escolas vendem fantasias para quem não faz parte de suas comunidades. Os preços variam de R$100,00 a mais de mil. Lá por janeiro é bom entrar em contato com as escolas por telefone e ver qual é a disponibilidade. Na maioria delas, você terá que ir à quadra para um ensaio, escolher a fantasia e efetuar a compra.

Em 2017 eu desfilei pela primeira vez e foi uma experiência mais do que incrível. Nunca tive nenhum vínculo com nenhuma escola e escolhi a Unidos do Peruche simplesmente pelo preço das fantasias: R$150,00 pelo aluguel. Desde o primeiro dia na quadra, me senti muito bem recebida e super acolhida. Paguei a fantasia e já participei de um ensaio, todos dançando e cantando ao redor da quadra. O samba era muito empolgante, logo comecei a decorar a letra e também havia uma pequena coreografia em um trecho da música. Ao fim do ensaio, a bateria entrou tocando e naquele momento eu senti que fazia parte não só daquela escola, mas também daquele samba. Peruche já havia ganhado meu coração e a partir daí eu me entreguei totalmente para fazer um desfile maravilhoso para mim e pela escola.

Também fui aos ensaios no Sambódromo, uma experiência já semelhante ao desfile. A entrada é gratuita e algumas pessoas aproveitam para ir assistir. Era um momento de conhecer um pouco o resto da escola, ver as outras alas, e também se organizar para fazer tudo direitinho no dia oficial. Nos ensaios o clima é bem leve, as alas desfilam com bexigas coloridas, dá para dançar bastante e se divertir, mas também tem algumas broncas dos chefes de ala, que querem ajustar tudo à perfeição.

A fantasia deve ser retirada antes do dia e eu aproveitei para fazer alguns ajustes no meu chapéu, que era muito pesado e não se ajeitava na cabeça, nada que um pedaço de EVA por dentro não resolvesse. No dia, fui à quadra mais cedo para fazer a maquiagem, específica da minha ala. O clima lá era de muita animação, mas também havia uns últimos detalhes para arrumar, como alguns costeiros que ainda não haviam ficado prontos. Tudo é tão organizado, dividido nas alas, que eu não presenciei nenhum momento de nervosismo ou preocupação.

Já perto da hora do desfile saímos de lá em ônibus direto para o sambódromo, passando por um belo congestionamento. Aproveitamos para ensaiar o samba mais algumas vezes, na maior animação. A concentração começa no Anhembi e as alas já vão andando desde lá organizadas em filas. Achei a minha ala, que já estava montada, e me posicionei. A medida que o desfile da escola anterior ia acontecendo, as alas do Peruche seguiam para frente, até que nos aproximamos do sambódromo e passamos a ouvir um pouco e acompanhar a festa por alguns telões.

Quando começa o esquenta da escola, os mestres de bateria falam algumas frases inspiradoras no microfone e começam a tocar. Nessa hora o agito começa e da vontade de sair dançando que nem louca, mas os chefes de ala lembram que precisamos guardar a energia para a passarela. Eles aproveitam os últimos momentos para arrumar qualquer probleminha de última hora nas fantasias e enfatizam mais algumas vezes que precisamos nos manter alinhados, cantar o samba com força e seguir evoluindo.

Já entrando no sambódromo, passamos entre os carros alegóricos, onde os destaques estão sendo içados por guindastes de bombeiros. Os carros são muito mais bonitos e grandiosos vendo pessoalmente do que pela televisão. A passarela toda iluminada se destaca à frente, com as arquibancadas lotadas. Um último momento de concentração e então eu me entrego totalmente àquele samba.

Durante o desfile eu e a escola somos uma só. Danço e canto com toda a minha energia, como se não houvesse amanhã. Passo pelos espectadores e os enxergo como se estivessem em um filme, estamos em dimensões totalmente diferentes. Enquanto eu evoluo, não sinto o calor da fantasia, nem o chapéu pesado, festejo e aproveito ao máximo. Ao fim da passarela estou realizada, só tenho forças para acompanhar o fim do nosso desfile, me sentindo plenamente feliz.


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