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Logo antes de chegar na Bolívia fiquei muito preocupada. Quando vou a um país novo, tento chegar livre de preconceitos, mas as diversas informações sobre perigos e golpes começaram a me assustar. Fiquei sabendo que não podia confiar na polícia boliviana e nem pegar qualquer táxi na rua. O próprio hostel em que eu ia ficar me mandou e-mail avisando de táticas de bandidos que enganavam turistas. Tão acostumada a andar tranquilamente por qualquer lugar novo e a pedir informações e confiar na ajuda de estranhos, comecei a achar que na Bolívia não poderia ser assim. Além disso, estou acostumada a andar como os moradores do lugar, fazendo o possível para me misturar e não chamar atenção, mas na Bolívia minhas características físicas facilmente me entregariam como turista.

A partir do meu primeiro momento no país já comecei a entender como lá é tudo diferente. Não perigoso, ou assustador, apenas diferente do que esperamos. Sobre a fronteira, havia sido avisada de que costumavam acontecer cobranças indevidas. Brasileiros não têm que pagar para entrar, mas algumas pessoas à minha frente na fila foram cobradas. Fiquei tensa, mas apresentei meus documentos em ordem e passei sem problemas. Estava acompanhada dos grupos do tour do Salar de Uyuni, ao partirmos de carro, fomos parados por um policial e nosso guia entregou algum dinheiro a ele. Não sei se fazia parte de algum acordo ou propina, e também não entendi nada do que falaram entre eles. Os bolivianos usam dialetos misturados com o espanhol, quando conversam entre eles é praticamente impossível entender o que dizem.

Ao chegar em La Paz, na rodoviária, me deparei com outras situações estranhas. Quando um boliviano entrava, ele era cercado por pessoas de várias empresas de transporte diferentes, que ficavam gritando e puxando, tentando arrastar a pessoa para comprar passagens com eles. Fiquei aliviada por eles não fazerem isso comigo, escolhi uma empresa aleatória e comprei minha passagem para Copacabana. Mas o ônibus não saia de lá, como era de se esperar. O vendedor me levou sozinha para fora da rodoviária, andamos alguns quarteirões e ficamos parados em uma calçada esperando. Ele ligou para o motorista e me avisou que não ia demorar. Após um tempo o ônibus chegou e parou no meio do trânsito para eu entrar. Já havia outras pessoas lá dentro, vindo não sei de onde.

Em Copacabana, ao comprar a passagem de volta a La Paz, quis me certificar que o ônibus iria até a rodoviária, de onde eu já saberia como seguir viagem. A vendedora me garantiu que sim. Entretanto, o trajeto terminou em outra parada, todos desceram e eu tive que sair de lá perdida, com medo de pegar um táxi. Me juntei com dois turistas franceses e dividi a corrida com eles até próximo de onde eu ia.

Nas lojinhas da Rua das Bruxas, lotadas de turistas, as senhoras bolivianas também recorrem a qualquer mentira necessária para vender seus produtos. Uma delas gritava que suas echarpes eram 100% feitas de lã de bebê alpaca, coisa que

eu não compraria de jeito nenhum. Perguntei se alguma delas era feita apenas de material vegetal, ao que recebi a resposta de que todas eram. Sem saber em que eu poderia acreditar, acabei não comprando nada.

Depois de alguns dias por La Paz, aprendi a andar pela cidade, inclusive a noite, sem preocupação. Um dia, não estava achando uma rua e me arrisquei a perguntar a dois policiais. Eles foram muito solícitos, um deles tirou um mapa gigante do bolso, encontrou a rua e me explicou gentilmente como chegar.


Como eu não estava segura para fazer tudo sozinha, aproveitei que tudo é barato na Bolívia e agendei um tour para Tiwanaku. Mesmo sabendo que é possível chegar lá de ônibus comum, preferi recorrer à comodidade. No meu último dia na Bolívia fiquei esperando para ser buscada na porta do hostel. Após mais de uma hora de atraso, um funcionário se ofereceu para ligar na empresa e perguntar o que estava acontecendo. Eles tinham me esquecido. E me ofereceram pagar um táxi até onde eu poderia pegar o ônibus comum para ir sozinha. Fiquei desconfortável com a proposta e no final eles mandaram uma moça para me acompanhar nesse trajeto. Durante todo o caminho eu fiquei preocupada, não conversei muito e ficava pensando se eu poderia confiar nela, se não era algum tipo de golpe. Não era. Chegamos no sítio arqueológico, eu encontrei o pessoal do tour e ela foi embora. Depois fiquei me sentindo mal por ter duvidado da moça que foi tão simpática comigo. Na verdade, eu não tinha nenhum motivo para desconfiar e a preocupação exagerada só me fez ficar fechada e distante, sem me dar a oportunidade de enxergar realmente o que estava acontecendo.

Fui embora da Bolívia ciente de que nem tudo é como a gente espera, mas que, como em qualquer outro lugar, temos que deixar um pouco as informações e avisos de lado e estar abertos para conhecer e viver a nossa própria experiência. Se preocupar com a segurança é sempre muito importante, mas temos que nos perguntar constantemente se existe alguma razão concreta para estarmos com medo ou se são apenas preconceitos.

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